Um ano que começou mal.

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(aviso: o texto é longo)
Andei ausente (do blogue) praticamente desde o início do ano e agora sinto que é o momento de partilhar com vocês aquilo que me aconteceu. Não tem rigorosamente nada a ver com comida saudável, mas afinal este não é um espaço com regras e pretendo que assim continue, livre e descomprometido por muito tempo. Esta é uma experiência que quero partilhar, simplesmente porque sei que vai ajudar muitas mulheres e também muitos casais a lidar com este assunto ou com outros semelhantes.
Faz pouco mais de 1 mês que tive, muito provavelmente, a experiência mais horrível da minha vida. Perdi um filho. Sim, eu estive grávida. Não contei a ninguém porque estava tudo muito no início. Soube da boa nova pouco antes do Natal, e que presente de Natal - pensei eu!
Estava feliz mas assustada ao mesmo tempo, em primeiro lugar porque seria o meu primeiro filho, em segundo lugar porque estou longe do meu país e da minha família - tirando o meu marido não tenho mais ninguém aqui que me seja próximo, e por último, porque não estava a planear uma gravidez, por enquanto, isso não significa que não tivesse ficado feliz com a notícia, porque fiquei.
Há quem diga que estas coisas quanto mais planeadas pior, mas eu também nunca fui de planear as coisas por isso acabei por me identificar com o acontecimento inesperado. Assim que soube da notícia abracei logo a ideia, mesmo sentindo que não era o momento certo...bom, na verdade nunca é, não é verdade? Principalmente para uma pessoa independente como eu.

Rapidamente me envolvi com tudo, ou quase tudo o que tinha a ver com gravidez, bebés, mães, o que prever, o que organizar, o que comer, o que beber - tudo e mais alguma coisa dentro da panóplia de afazeres de uma pré-mamã. Confesso que até fiquei um tanto ou quanto obcecada e devorei todos os vídeos de youtube, blogues sobre gravidez e até roupa de pré-mamã andei a ver em lojas online. Enfim, tenho a certeza que não fui nem serei a única a ter feito esta exaustiva pesquisa.
Aqui nos EUA as consultas de gravidez são feitas bem mais tarde (por volta das 10 semanas), por isso ainda não tinha feito nenhuma ecografia. Marquei apenas uma consulta de ginecologia que me confirmou que estava com 4 semanas depois de fazer uma análise ao sangue.
Havia um sintoma que desde logo me começou a preocupar - pequenos sangramentos, ao qual a médica que me viu não deu grande importância. É normal e há muitas grávidas que sangram, principalmente no início da gravidez.
Passaram-se 3 semanas e eu continuava com os malditos sangramentos, até que a minha barriga começou a inchar de tal forma que mais parecia que estava com 20 semanas (em vez de 7).

No dia em que comecei a sentir dores alucinantes em todo o abdómen (como se fossem facas bem afiadas a espetarem-se alternadamente) fui para o hospital à espera que fosse apenas mais um sintoma da gravidez, cólicas ou mal-estar (afinal era o meu primeiro filho e eu não fazia a mínima ideia do que estava a sentir), e na verdade sentia muita curiosidade em ver o pequeno.
Quando cheguei às urgências as dores acalmaram, o que fez com que os médicos acreditassem que eu queria era matar a minha curiosidade e finalmente ver o rebento, o que fez com que ficasse cerca de 4 horas à espera para ser atendida - afinal, os serviços de urgência aqui não são assim tão eficazes, ou então o erro foi meu por não ter feito um ar mais miserável e doloroso.
A verdade é que assim que entrei para o gabinete fui tratada como uma princesa. 557 mil funcionários (sou capaz de estar a exagerar um pouco) entraram e saíram do gabinete para tirar sangue, medir sinais vitais, falar comigo, examinar o que tinha até que, depois dos devidos exames feitos, me deram a notícia de que eu estava com uma gravidez ectópica - o embrião estava a crescer no sítio errado, neste caso estava numa das trompas que acabou por romper devido ao crescimento do embrião.
Depois de uma hora a chorar (e uma directa em cima. Eram 5 da manhã e eu estava no hospital desde as 10 da noite) levaram-me para o bloco e passado cerca de 45 minutos acordei num outro quarto onde me informaram que me tinham retirado uma trompa e cerca de meio litro de sangue da minha barriga - daí as dores insuportáveis em toda a zona abdominal - depois disto percebi que devo ter alguma descendência viking pois tenho muita tolerância à dor.
Graças à evolução da ciência e também ao facto da cirurgia ter sido relativamente simples fizeram apenas 3 furinhos (laparoscopia) com cerca de 1cm cada que rapidamente cicatrizaram.
Fui operada às 8 da manhã e à 1 da tarde do mesmo dia estava em casa a almoçar, sushi (tinha que me vingar de alguma forma).

Foi tudo muito repentino, e confesso que nos primeiros 2 dias a forma como me estava sentir - psicologicamente - até me estava a fazer alguma confusão. Tirando o inchaço na barriga da cirurgia parecia que não tinha acontecido nada. Na verdade estava em choque e a tentar reagir da melhor forma possível com a perda que tinha tido. Sim, perda. Porque apesar de não ter visto nada, a verdade é que eu estava à espera de um filho, eu estava a gerar uma vida, uma vida à qual me apeguei durante 1 mês, e mesmo que digam que não nos devemos apegar porque as coisas podem não correr bem, a verdade é que isso é praticamente impossível de controlar, é impossível ignorar e fingir que não é nada até vermos tudo na ecografia. Não é verdade?
Passadas 2 semanas voltei a ser examinada e a recuperação correu muito bem - muito graças à alimentação saudável e à paciência que tive para ficar parada e apenas fazer algumas caminhadas - nada de ginásio. Fiquei a saber que o